Crise Econômica Mundial começa dia 18 de Jan/2020, diz analista americano

A próxima crise econômica mundial começa no próximo dia 18/19 de janeiro de 2020, ou seja, a partir dos primeiros dias úteis da próxima semana. Algum evento de grande magnitude acontecerá no mercado de capitais mundo afora, aprofundando a desaceleração do nível de atividade. Esta afirmação não tem a ver com os desdobramentos da guerra comercial entre Estados Unidos e China ou mesmo com a recente crise provocada pelo Presidente Donald Trump com o Irã, ainda que estes sejam eventos em curso. É previsão do economista autodidata, Martin Armstrong, operador do mercado financeiro americano, nascido em 1949 nos Estados Unidos da América-EUA. Segundo ele:

“Esta é a mãe de todas as crises financeiras, que afetará tudo que tocar. Isso fará com que a crise financeira de 2007-2009 pareça um experimento. Não há político que se levantará e falará sobre esta crise, nem ousará fazer perguntas pertinentes por medo do que será revelado.”

A inflexão econômica esperada desponta na trajetória de eventos previstos desde o auge da Crise do Subprime. ”Esta é a crise da dívida soberana em esteróides”, uma “combinação da crise de liquidez de 1998 e da crise financeira de 2007-2009”, com perdas projetadas para as instituições (financeiras variando) de 40% a 60% dos ativos”, afirma Armstrong.

A crise a partir de 18/19 de janeiro de 2020 vem como consequência das soluções da Crise Internacional do Subprime.

A crise corresponde ao 635º ciclo de seu modelo, equivalente à “6ª Onda” de 309,6 anos, cuja modelagem geral se inicia no ano 6.003 A.C, conforme planilha publicada pelo autor sobre os momentos históricos de inflexão econômica. De acordo com o modelo, o ciclo deverá durar um período de 8,6 anos e “produzir um colapso na confiança dos governos, que resultará em uma mudança de ativos públicos para privados” acompanhada de “uma escassez de mercados agrícolas aumentando a onda inflacionária” e dos “ciclos de crise monetária e crise da dívida soberana”.

A Sexta Onda refere-se às sucessivas etapas de investimento alternadamente do setor público e privado, com duração de 51,6 anos. Ela se iniciou no final do século XVIII, com o nascimento propriamente do capitalismo moderno. A partir do marco analítico de Johan Schumpeter sobre ciclos econômicos, o analista identifica regimes de acumulação como, por exemplo, o período do advento da “Energia a Vapor, Ferrovias, Aço e Algodão” entre 1826 e 1878, com investimento público. Agora, estaríamos vivenciando novo regime, impulsionado pelo investimento privado em Internet, globalização da economia, mas fundamentalmente em tecnologias de informação e comunicação, cujo final de ciclo está previsto pra 2032.

Mudanças no padrão de acumulação

Os efeitos da crise, que irão se estender até 2032, sugerem o início de novo padrão de acumulação de riquezas com investimentos a partir do Estado. Embora o resultado do modelo não faça considerações mais detalhadas sobre a natureza dessas mudanças, são visíveis, na atualidade, o esgotamento do padrão de empregabilidade, a introdução de nova fonte de energia (fotovoltaica), a radicalização da financeirização da produção de riquezas, bem como a incapacidade do Estado e da iniciativa privada de formação da força de trabalho neste cenário de profundas mudanças, a persistência de crescente exclusão social de contingentes de trabalhadores, dentre outras evidências. Apesar de, enquanto liberal, não vislumbrar transformações desta natureza, Armstrong espera mudanças profundas na dinâmica de financiamento do capital, mas não acredita que “2032 seja o fim da civilização, mesmo se assumirmos que a Sexta Onda será de igual importância a que acolheu o fim de Roma em 175 dC”, que repercutiu seus efeitos pelos 900 anos subsequentes…

Modelo de Confiança Econômica

Armstrong não apresenta artigos teóricos estruturados ou mesmo fundamenta seu modelo em livros de teoria econômica de sua autoria, com eventuais equações, modelos matemáticos que justifiquem suas conclusões. Em seu site/blog, oferece inúmeros artigos em tom jornalístico onde expõe sua opinião liberal sobre a conjuntura política e econômica mundo afora, as virtudes e limitações de diversos autores da teoria econômica e trata de aspectos gerais de seu modelo analítico.

Armstrong mantem os fundamentos de seu modelo em segredo. Em 2012, disse que executa, no “IBM Sequoia, o supercomputador mais rápido do mundo, com 16 mil trilhões de cálculos por segundo”, a modelagem de um “sistema de inteligência artificial totalmente funcional que correlaciona toda a economia mundial 7 dias por semana, 24 horas por dia”, a um custo de “equipamento e programação de mais de US $ 100 milhões”. Em setembro de 2018, denominou o software escrito em código assembler, que processa as modelagens, de ‘Socrates’. Desde dezembro de 2015, o resultado de suas modelagens são vendidos como relatórios e gráficos através do aplicativo da Web Socrates, inclusive o relatório “Mãe de Todas as Crises”, onde trata do advento da crise de agora, pelo preço de US$ 495.

Armstrong descreve o resultado, que dá sustentação para sua  interpretação dos ciclos econômicos como o “Modelo de Confiança Econômica (Economic Confidence Model-ECM)”. O modelo considera que as ondas econômicas ocorrem, aproximadamente, a cada 8,6 anos ou 3.141 dias, equivalente a 1.000 vezes o número “pi” (π = 3,14159). No final de cada ciclo, há uma crise, após a qual o clima econômico melhora até o próximo ponto de crise de 8,6 anos. As ondas de 8,6 anos são constitutivas e estruturantes de uma longa de 51,6 anos, portanto, equivalente a 6 ciclos curtos. Nesta perspectiva, o modelo de Armstrong identifica, entre 1683 e 1907, uma lista de 26 estresses financeiros históricos em 224 anos, correspondente justamente à frequência de aproximadamente 8,6 anos.

Previsões

As previsões a partir do ECM foram bem sucedidas em 1977, quando antecipou corretamente o preço das commodities. A previsão de Armstrong de um iminente colapso econômico russo foi mencionada no Financial Times em 27 de junho de 1998, sendo que, “em agosto de 1998, o mercado de câmbio sofreu a crise financeira russa de 1998”.

Em 2011, a Barron’s reconheceu que o Modelo de Armstrong conseguiu antecipar o dia efetivo do Crash de 1987. Sobre a Crise do Subprime, assinala que o modelo registrou “a baixa do ciclo descendente do mercado em 6 de março de 2009 até o pico de 29 de abril de 2011, (que) durou 785 dias, ou 2,15 vezes 365”, sendo que “o período de 13 de junho a 14 de junho marca 8,6 anos desde a sua última maior inflexão em 2002, e está a 4,3 anos (duas vezes 2,15) do pico de dinheiro fácil de 2007 e dos spreads de crédito mais apertados de todos os tempos”.

Em julho de 2014, Armstrong previu incorretamente que os preços do petróleo subiriam em 2017. Naquela época, o preço futuro do petróleo bruto era de US$ 105,53 e caiu abaixo de US$ 40. O The Guardian noticiou que  “o 1º de outubro (de 2015) chegou e passou sem o Armageddon financeiro”, que “o veterano em previsões Martin Armstrong”, com seu modelo, sugeriu “seria um grande ponto de virada para os mercados globais”.

Para quem se interessar sobre a trajetória do analista e operador financeiro Martin Armstrong e seu modelo preditivo, assista ao documentário The Forecaster (2014), disponível na Globoplay, que conta a história de sua prisão por 11 anos e apresenta  suas alegações de  inocência e o interesse do FBI – Federal Bureau of Investigation em seu modelo econômico. O imbróglio em que se meteu tem como episódio trágico o assassinato, em Mônaco, do banqueiro, judeu-libanês naturalizado brasileiro, Edmond Safra, de então 67 anos, um dos homens mais ricos do planeta.

À época, Safra negociava a venda dos seus dois bancos, o Republic National e o Safra Republic Holdings, de Luxemburgo, para o HSBC. Teria informado ao FBI que a máfia russa usava as agências de seu banco para lavagem de dinheiro, tendo encerrado 40% dos negócios na Rússia. Antes disso, veio à tona o fato de que investidores japoneses foram prejudicados em cerca de US$ 1 bilhão pela corretora Princeton Economic International de Martin Armstrong, que tinha o aval do Republic National. O negócio da venda dos bancos estava emperrada, justamente por esse evento, em que a empresa de Armstrong estava acusada de fraude em operações de venda de títulos no Japão.

De todo modo, embora as conclusões de Armstrong não sejam acompanhadas de fundamentações claras, a expectativa de crise internacional em 2020 é grande. No vídeo, “How to prepare for the next global recession” (Como se preparar para a próxima recessão global), a revista The Economist reporta que a maioria dos analistas considera que a crise se desenrolará a partir do primeiro semestre de 2020. Em outro vídeo (Does this line predict The next recession?/Esta curva prediz a próxima recessão?), discutem-se os indícios da ‘curva invertida de juros de títulos públicos’, que ocorreu em 2019, sinalizando a perda de confiança do investidor e a proximidade da crise.

Sobre Wieland 53 Artigos
Wieland Silberschneider é Doutor em Economia e Mestre em Sociologia pela Universidade de Minas Gerais.